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Uma raia veio me dar bom dia
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uma raia veio me dar bom dia no cais uma tartaruga veio antes com seu nadar vagaroso enquanto bugios roncavam e nuvens passavam pela montanha ali onde malungos se escondiam ou tramavam fugas e revoltas da fazenda de engorda e o tempo kitembo como névoa se misturou com a manhã e eu escutava o jongo as juras de amor os planos as conversas das mulheres sobre seus homens e filhos o gemido entre os dentes do último fujão pego pelo capitão do mato e eu via as pedras sendo cortadas o sangue nas mãos cortadas a tristeza e o banzo das famílias e relações cortadas e eu sentia a névoa do tempo kitembo e via os terreiros destruídos por traficantes cristãos e a polícia e a milícia disputando território disputando o morro disputando nossas casas e nossa fé e ouvia os xingamentos ouvia a história apagada a história escondida a mentira branca de liberdade inventada e sentia nojo revolta tristeza e isso se agigantou em poesia e o meu branco sagrado da veste ritual do luto do algodão passou a ser branco de luta e kitembo veio outra vez com sua névoa e eu decolei na nave prateada do poema atravessei com mais malungos mais naves e cada um dos sagrados orixás e cada uma das yabás e o sagrado se fez arma e força e consolo e voavamos do futuro ao passado guerreamos guerras antirracistas e classistas inventamos máquinas e músicas poesias e contos construimos casas máquinas códigos binários e recontamos histórias com nossas palavras e verdades e eu poeta palhaço professor agora sentado na rede vejo o horizonte os passarinhos no quintal a calunga grande Aruanda está em festa e eu com meus privilégios de homem pardo filho de negro e branca conto agora amanhã e ontem sobre a diáspora e nosso aquilombamento que nos restitui a vida e a glória
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